Será genético?*

A maioria dos portugueses será, porventura, desconhecedora duma coisa a que se dá o nome de Terceiro Sector, ou numa versão mais moderna e politicamente correcta a Economia Social, e mais ainda daquilo que são as Cooperativas, excepção feita às incómodas situações em que o modelo serviu os interesses particulares do grupo A ou B, num elaborado esquema de fraudes e negociatas pouco claras, nomeadamente nas áreas da educação ou da Habitação, que não obstante estarem a longas milhas dos Princípios e Valores Cooperativos, identificam negativamente todo o sector, e negligenciam a informação de que o Terceiro Sector representa cerca de 10% do PIB nacional, e é um dos mais estáveis empregadores em território português.
Mas, na realidade, a culpa maior não recai na Sociedade Civil, nem tão pouco dos meios de Comunicação Social, recai, isso sim, toda e exclusivamente sobre o próprio Sector.
Digo isto com propriedade. Passei 10 longos anos a trabalhar em estruturas cooperativas.
E a realidade é que a vastíssima parte dos dirigentes Cooperativos são incapazes de perceber que o mundo, e o país, não são os mesmos de há 35 anos, e que hoje, face a gigantesca oferta de produtos e serviços, o consumidor está, e ainda bem, mais atento, informado e sobretudo mais exigente. É por isso imprescindível dar-lhe a conhecer os apropriados estímulos, fazer perceber, que o que justifica a adesão a uma Cooperativa é, para além de quaisquer outras eventuais vantagens, a enorme regalia de participar numa organização gerida por cidadãos eleitos sob o princípio de um Homem, um Voto, economicamente participada pelos seus membros, no total respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos, e pela capacidade intrínseca a estas organizações, de se projectarem para soluções inovadoras e versáteis, de forma a dar prossecução às necessidades mais prementes dos seus sócios.
Vem este desabafo no seguimento de ter, recentemente, ficado a saber, que um dos maiores eventos mundiais cooperativos, com estreia no nosso País, no ano de 2008, e com o inicial objectivo de aqui se manter para promoção e divulgação do Cooperativismo a nível nacional e internacional, foi estrategicamente mobilizado pela estrutura de cúpula mundial, para um novo país, a Índia, em grande parte pela total ineptidão das estruturas cooperativas nacionais em: perceber a indiscutível oportunidade que tal realização se revelaria para a economia do sector e fortalecimento da imagem do trabalho cooperativo junto da Sociedade Civil; dinamizarem as suas filiadas, e por sua vez estas, os seus sócios de base, para os benefícios duma iniciativa desta envergadura; sensibilizarem os órgãos governativos para a importância estratégica de centrar Lisboa numa rota de comércio cooperativo, que traria, a cada dois anos, uma média de 5.000 cooperativistas por todo o mundo, em busca das melhores parcerias comerciais.
E a propósito do quê? De meia dúzia de pruridos ideológicos, que condenando ao fracasso este tipo de iniciativas, estão indiscutivelmente a remeter as Cooperativas para um nicho cada vez mais fechado sobre si mesmo, e em situações de crise menos capazes de articular soluções integradas de gestão que lhes permitam dar o salto.
E pergunto-me, porque a metodologia não é, concerteza, desconhecida doutros sectores, será genético?
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* Crónica para a CRIA+ nº3.
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