Pele



Abro a embalagem do chocolate. Posiciono os dentes no primeiro pedaço. Cerro ligeiramente os olhos e sinto os dentes a enterrarem-se lentamente no chocolate amolecido pelo meu desejo (representação menor daquilo que me apetece). Sinto-o a derreter-se na boca num misto de prazer e culpa (os doces fazem mal) e penso em ti. O mesmo em quem penso diariamente. Durante o dia e boa parte da noite. Muitas noites. Demasiadas.

Foi-me dada uma tarefa. Quero cumpri-la. Desta vez não quero falhar. Não o quero desiludir mas ao mesmo divago nas consequências da minha desobediência. No lado negro do prazer. Questiono-me sobre o que quero? Sobre o que quero sentir? Deixo-me guiar pela viagem mais difícil, aquela que me permitirá sentir-lhe a mão, partilhar o gesto... Mas decido que me vou portar da forma certa. Do modo esperado. Vou contar-lhe o que deseja, o que nos faz manter este jogo aceso.

Volto a trincar o chocolate e sinto-o nos meus lábios. Procuro limpá-lo com a minha língua aguardando com desejo, muito desejo a possibilidade da aproximação. O sentir da pele. Íntimo. Ardendo em desejo.

Sem comentários: