Saramago

Ora, ficar-me-ia muito bem, vir para aqui hoje, proferir 2 ou 3 citações de Saramago. Não seria tarefa difícil, não porque eu as saiba verdadeiramente, mas porque estou em casa, com a quase totalidade dos títulos ao alcance da mão, porque na SIC repassa uma reportagem ou porque, convenhamos, nos tempos que correm, qualquer busca no espaço virtual nos permite encher a boca, ou o lápis, com enormidades de coisas que não conhecemos com a propriedade de quem as estuda em profundidade. Podia efectivamente fazer qualquer uma destas coisas, e ficaria para vocês como mais uma a juntar ao conjunto de outros que hoje não fazem outra coisa que não citar o senhor.
Acontece que eu nunca li Saramago. Bem, na realidade nunca li Saramago até ao fim. Ou mesmo até ao meio. Não porque não tenha os livros, repito, quase todos ao alcance duma mão, ou a ausência de referências de amigos, nunca o li porque, sinceramente, acho que nunca me apeteceu verdadeiramente. É uma daquelas coisas.
Na minha cabeça, só se lê Saramago perante determinado estado espírito. Ora nos últimos anos esse estado de espírito tem estado ausente (para o melhor e para o pior), e quando esteve presente, foi inúmeras vezes tentado por autores mais apetecíveis. E o Saramago lá foi passando para o final da linha. Sistematicamente. A única obra que lhe comecei a ler (a melhor segundo a opinião de muitos e do N,, para mim a melhor referência) foi o Memorial do Convento, livro que aliás me remete indubitavelmente para a Paula. Tenho na memória uma altura em que ela, entusiasmada com o livro, o transportava consigo para todo o lado, cheio de notas e de papéis onde rasurava as infindáveis relações que se perpetuavam ao longo de todo o livro.
O dia 18 de Junho de 2010 ficará para a história da cultura portuguesa como o dia em que morreu José Saramago. O comunista de escolaridade mínima que chegou a Prémio Nobel. Mas não ficará na minha vida como o dia que o (re)começarei a ler.