Contos que se contam aos mais pequenos

Foi lançado o desafio, e desta apeteceu-me corresponder. Os requisitos não eram fáceis. A ideia andou por aqui, a germinar, criou raízes e passou ao papel, ou melhor, à folha branca do ecrã.
Ainda com falhas, situações pouco exploradas, e talvez até demasiado óbvia, mas vá acho que não ficou muito mal para a estreia na difícil atmosfera do conto infantil.
***
Todos os anos era a mesma coisa.
No dia 31 de Outubro, a mãe acordava-a cedo para se prepararem para a exposição na mercearia da Ti’Emília. Sempre vaidosa, nestes dias, a mãe era ainda mais atenta aos pormenores, e depois da banhoca, pegava numa toalha especial e esfregava-a, esfregava-a, esfregava-a tanto que quando acabava, a aboborinha parecia mais uma estrela cintilante do que uma abóbora -menina.
Todos os anos era a mesma coisa.
Tanto trabalho, para depois as crianças entrarem na mercearia da Ti’Emilia e, ofuscadas pela luz laranja das outras abóboras, nem sequer olharem para o seu belo verde e forma esguia.
Todos os anos era a mesma coisa.Todos, mas não neste.
Farta de se sentir diferente, a Abóbora-Menina, decidiu que chegara à altura de fazer uma visita à Bruxa Luxa para lhe pedir ajuda.
- A Bruxa Luxa sabe tantos feitiços que de certeza que ela me vai conseguir ajudar a ficar assim mais bonita, redonda e laranja.
Como a bruxa vivia um bocadinho longe, num castelo feito de gomas e rebuçados, a Abóbora – Menina, preparou um belo lanche para o caminho, e escreveu um bilhete à mãe, para ela não se preocupar.
Depois de já estar andar há um bom bocado, começou a sentir fome. Por isso decidiu sentar-se à sombra duma grande árvore, mesmo ali à beirinha do caminho.
Quando estava a tirar o seu farnel, começou a ouvir, lá muito ao longe, um estranho som. Assustada a abóbora-menina ficou de vigia. Quem seria? Alguma bruxa que vinha visitar a Bruxa Luxa?! Toda a gente sabia que a Bruxa Luxa, não era como as outras Bruxas. Era mais simpática e sem verrugas. Mas a Abóbora-Menina sabia bem que as outras bruxas não eram assim. Algumas eram mesmo muito más.
Enquanto se ia arrepiando a pensar nas maldades que as bruxas faziam às abóboras, especialmente nesta altura do ano, o estranho som ia-se aproximando mais e mais do sítio onde se encontrava, quando de repente, sem que ela me apercebesse, saiu detrás do estranho arco musical, um anão.- Olá!
– Disse bem-disposto o anão – Então, estás perdida? És muito pequena para andar por aí sozinha.
- EU NÃO SOU PEQUENA! – Respondeu amuada a Abóbora-Menina – Eu já tenho 5 anos.
- Pronto, pronto, não fiques zangada. – Respondeu de imediato o anão. - Não te queria ofender. Pensei que podias precisar de ajuda.
- E tu quem és? – Perguntou a Abóbora–Menina, aborrecida com a estranha visita.
- Desculpa. Nem me apresentei, eu sou o Anão Sabichão. E este é o meu berimbau.
- Berimbau?! – Repetiu confusa a Abóbora-Menina.
- É um instrumento musical – explicou a rir o Anão Sabichão. E então o que te traz por estas paragens? – Tornou a perguntar o Anão, que para além de Sabichão também era muito curioso.
- Vou visitar a Bruxa Luxa.
- Ai sim?! Então porquê? Tens algum problema?
A Abóbora –Menina não gostava muito de contar as suas coisas, muito menos a estranhos. Mas o anão parecia ser boa gente, sempre a sorrir e a tocar, e a verdade é que lhe apetecia companhia. Assim, meio a custo, lá explicou ao Anão Sabichão as razões da sua tristeza.
- Por isso decidi vir visitar a Bruxa Luxa, percebes?! A ver se ela me ajuda. – Concluiu a Abóbora-Menina.
-Hummm….- Ia dizendo o Anão Sabichão enquanto coçava a cabeça – Sabes, acho que é melhor contar-te uma história.
Atenta, porque adorava ouvir histórias, a Abóbora-menina ajeitou-se bem junto à árvore.
Há muito, muito tempo – começou ele – também quis mudar de aspecto. Queria ser grande como os meus amigos. Onde vivíamos só eu e os meus pais éramos anões. Os meus amigos diziam para eu não me ralar com isso, mas havia sempre miúdos com risinhos marotos que me faziam maldades e me punham a chorar. Assim um dia, acordei, e como tu, pus-me ao caminho do castelo da velha Bruxa Luxa. Quando lá cheguei e lhe expliquei a razão da minha tristeza, ela deu-me logo o feitiço. Bebi-o de imediato. Quando estava de regresso a casa, comecei a sentir os efeitos. Estava cada vez maior. Os sapatos arrebentaram, as calças ficaram mais curtas e a camisa… bem a camisa nem te digo, ficou num farrapo. Quando cheguei à aldeia, estava enorme e ansioso por ir contar a todos as novidades. Corri para casa, mas quando lá cheguei não podia entrar. Não cabia. Os meus pais assustados com o meu tamanho, correram a esconder-se. Os meus amigos, sem me reconhecerem, recusavam-se a ouvir-me. Fiquei totalmente sozinho. Queria tanto, mas tanto ser maior, que me esqueci que aqueles que me conheciam, gostavam de mim tal qual como eu era. Baixote e bem-disposto. No mesmo momento corri novamente para o Castelo da Bruxa Luxa e obriguei-a a dar-me novo feitiço. Mas agora para voltar a ser como era.
Quando acabou, a Abóbora-Menina olhava-o de olhos arregalados.
- Nunca tinha pensado nisso - disse ela algo preocupada.
- Sabes Abóbora-menina, disse-lhe o Anão. O importante não é sermos iguais aos outros. O importante é aprendermos a ser felizes tal e qual como nós somos.
A Abóbora Menina, levantou-se dum salto, e disse: Sabes Anão, acho que realmente és mesmo muito Sabichão. Vou mas é voltar para casa e descansar porque amanhã, acrescentou com orgulho, tenho de ir mostrar a minha beleza verde lá na exposição da Ti’Emília.
Neste dia, a Abóbora – Menina aprendeu uma grande lição, mais importante do que a cor, altura ou forma, o que é preciso é termos orgulho em ser quem somos, mesmo que sejamos diferentes de todos os outros.

ahhh!!! e dizem que fui a vencedora desta semana. :)

9 comentários:

Andreia Azevedo Moreira disse...

Está lindo o teu conto! Não sou criança (vá, sou um bocadinho) mas ADOREI! Parabéns! Justa vencedora. Não li os outros mas acredito =)

M. disse...

Obrigada :)
(somos todos um bocadinho... e ainda bem)

Marta disse...

E se foi vencedora é porque o conto está mesmo bom... é que os juris por aqui, são bastante exigentes!!! ;-)

Parabéns pela história, está linda! E porque é que não vai lá à sala contar a sua histórias aos meninos? De certeza que iam adorar!!!

Beijinhos

M. disse...

Obrigada!!
Quem sabe?! Ainda nasce daqui um projecto sobre as abóboras ;)
Beijinhos e muito obrigada

(as galochas prateadas para além de mega fashion tambem já fizeram despertar aqui algumas ideias, a ver se sou rapariga de as concretizar)

(as melhoras e nada de abusos para depois a recuperação não ser pior :) beijinhos)

Inês disse...

A história está uma delícia! Contada na sala e ilustrada pelos pequenos daria um livro e tanto para a biblioteca da sala... Parabéns! :) Beijocas

Infoexcluído disse...

Gostei muito desta história. Ficamos, cá em casa, a aguardar por mais, para sermos os primeiros leitores.
Beijocas

Mãe João disse...

Adorei!!!!!!!!!!

menos uma adversária!!!!!!!!

beijinho

Agorinha mesmo e com muito bom argumento institui o "story break morning"

Van disse...

Concordo com a Inês, a história é uma delicia, merece ser devidamente ilustrada e bibliotecada ;)

Parabéns :)

Mãe João disse...

1- eu quero uma cópia da "versão" final.

2 - PARABENS vencedora. peço desculpa pelo atraso mas só agora fui espreitar o blog do infantário. Há alturas em que ambiciono ser um pequeno polvo, outras um "COLVO" (pequeno ente com oito cabeças)

3 - Detalhes do conto muito muito apreciados:
mercearia - faz parte do imaginário de muita gente mas eu adoro estes estabecimentos
Bruxa - porque também há bruxas boazinhas
a moral da da história - um momento mágico (senti-me com 4 ou 5 anos a ouvir de um crescido o que eu muitas vezes envergonhadamente sabia)

sorry... sou trapalhona com as palavras mas