Anita

Do baú de memórias, disfarçado de mala de viagem samsonite, saiu recentemente um exemplar igual ao da foto que ilustra este post. Só de vê-lo fiquei logo com pele de galinha, e então quando a M. insistentemente me pediu para lho ler, as minhas entranhas entraram em modo de gestão autónoma, e por umas boas horas, seres de maus fígados viveram dentro de mim (todos patrocinados pela sandaloca caveira).
Pois é! Eu, ao contrario do que parece ser a tendência geral, desde piquena tenho assim, a modos de que uma ligeirinha embirração, com a fofa. A verdade é que a Anita crescia para ser o tipo de menina/mulher, que eu já com 8 anos abominava. Pois que ela é a fada do lar, pois que ela obedece a tudo o que lhe dizem, pois que ela não pensa pela sua própria cabeça, pois que ela não é uma mulher independente, pois que ela cresce a pensar no homem que a levará ao altar, enfim, o prototipo da mulher ideal na América dos anos 50, com laivos de identificação europeia, por volta do mesmo período. E obviamente tudo aquilo que eu não sou, e não desejo às filhas de ninguem, muito menos às minhas.
Mas lá fiz o meu papel de mãe, relativamente decente, e contei a história, de quando em vez ruminando para o N. os disparates que saltavam do livro, tipo soco no estomâgo, para ser dignificantemente ignorada na indignação, com um singelo encolher de ombros (mas também o que é que um gajo percebe de emancipação feminina?!pffff), e okay, em abono da verdade, as ilustrações são fantásticas, os olhares do Francisco (o irmão) do Pom-pom e do Pantufa (respectivamente gato e cão) idem, e a própria da tipa também é uma giraça, mas por deus alguem lhe ponha um cigarro na boca, um copo de gin na mão, e um verniz nas unhas para ver se a moça arriba. Caraças!

Já agora, este exemplar especifico foi-me oferecido no dia 2 de Julho de 1982, pela Paula Dinora [no coments, please!] como prenda pelo meu 8º aniversário. Ò pá, estas coisas moem!!

4 comentários:

Infoexcluído disse...

O livrinho é ligeiramente estereotipado, no entanto isso não tem de ser necessariamente mau. Lá porque a mocinha é assim para o atinadinho betunfo, não quer dizer que na adolescência não tenha sido mãe solteira de um Punk que a engravidou durante um concerto dos Sex Pistols, em Londres para onde fugiu de casa dos pais depois destes terem encontrado seringas escondidas na gaveta das camisolas de rendas.

M. disse...

Lindo!!!
Com estes maravilhosos exemplos o futuro das nossas filhas está bom de se ver ....

Mãe João disse...

A minha sorte: a Anita vai estar estar arrumadinha à espera das minhas netas

Coincidências:
Este foi o meu primeiro livro da Anita oferecido pela minha mãe no dia do meu 6º aniversário no dia 2 de Julho de 1970.

Beijinho

M. disse...

olha que giro! :)
Beijinhos