Cidadania e outras coisas de fundo ...

Hoje tantos são os temas do dia, que se fosse criar um post para cada, nunca mais saía daqui, e assim decidi encaixar tudo o que me vai na alma sob a questão da CIDADANIA.
As greves são um fenómeno sociologicamente interessante, a movimentação das massas, os discursos inflamados, sobretudo o acreditar que unidos fazemos a diferença
(o que não deixa de ser muito curioso, num país, para não dizer Mundo, em que nos restantes dias caminhamos sistematicamente de costas voltadas)
, tudo muito certo, sou completamente favorável à livre expressão de opiniões e descontentamento. Já tenho contudo, muita dificuldade em compreender, e mesmo em aceitar, todos aqueles que ao fazerem greves, rapidamente esquecem que a sua liberdade de protestar acaba quando a mesma interfere com o bem estar daqueles que exerceram a sua escolha (directa ou indirectamente) de não se associarem ao protesto.
Trabalho próximo da Expo e na passada quinta feira, por causa do Rock in Rio, vi-me obrigada a escolher como alternativa de regresso a casa o caminho junto ao Rio. Nesse mesmo dia, segundo rezam as crónicas noticiosas, 200.000 pessoas
(desculpem mas depois de ter passado uma hora a vê-los passar, não lhes posso em boa consciência chamar de trabalhadores)
desfilaram em protesto contra o Governo. Preferências à parte, o que realmente me chocou foi a forma com estes, Cidadãos conscientes e ciosos dos seus direitos enquanto tais, optaram por desrespeitar os tais outros cidadãos que escolheram não se lhes associar, imobilizando-os nas vias automóveis, e impossibilitando-lhes o regresso a casa, indentependentemente do sinal estar verde, a rua era deles e os direitos dos outros que ... fossem para as urtigas!. Ora gostava de perceber exactamente, onde é que os direitos destes trabalhadores que optaram por irem desfilar, são mais importantes que os meus e os dos outros, que optamos por ir trabalhar?!
Ontem e hoje, por razões distintas, as noticias da greve dos caminionistas ganham contornos assustadores: 1 morto em Portugal, 1 morto em Espanha, 5 camiões incendiados em Portugal, mais de 30 camiões portugueses imobilizados junto às fronteiras de Espanha por piquetes de greve, pneus retalhados, carga inutilizada ou destruída, a comida escasseia e o escalar do tom dos confrontos, fazem a população correr para as bombas de gasolina, com medo da escassez que os mais optimistas acreditam não irá chegar. Mais uma vez estamos perante um sector em crise, que perante a incapacidade de adaptação à realidade do mundo moderno, e sem real capacidade crítica para acautelar situações de eventual crise
(não esqueçamos que estamos a falar maioritariamente de micro empresas, geridas e assentes em relações familiares, pouco preparadas para o mercado global, e sistematicamente no limite da falência técnica)
opta, como é obviamente o seu direito, por se manifestar por melhores condições. Mesmo que as melhores condições que pretendem sejam de exequabilidade nula ou limitada, e que, lamentavelmente, não seja capacidade real e consistente do Governo Português em as resolver (ao que sei os poços de petróleo não proliferam por esse país fora). Mas também neste caso o que mais me chocou foi a passividade das declarações de alguns elementos do piquete de greve perante a realidade da morte dum companheiro de luta "não passa ninguém, nós só queremos garantir o nosso!". E então os outros que também só querem garantir o deles, não aderindo à greve?
Uma vez mais o que efectivamente me choca é a clara incapacidade dos meus compatriotas em compreenderem que a Liberdade é efectivamente um Direito Fundamental de Todos Nós, e não só daqueles que concordam conosco.
Perante este quadro de reflexões, e o constante bombardear de flashes noticiosos alvitrando o fim do mundo tal como o conhecemos, como boa portuguesa, alarmista e com a obrigatória costela pessimista, desloquei-me ao supermercado da área para adquirir alguns dos produtos básicos (leite, ovos, manteiga,etc). Saio do carro e dirigo-me à box dos carrinhos moeda em punho, à minha frente está uma... podia-lhe chamar Perua ... mas para ser bem educada e respeitar a diversidade acho que lhe vou chamar de Senhora, que languidamente tira o seu carrinho de compras da correnteza. Subitamente vejo-a parar ... debruçar-se sobre o carrinho ... tirar do mesmo um saco de plástico (das frutas e legumes) que alguem lá havia deixado, percorrer todo o caminho para trás para o pôr ... no carro que estava à frente !!! Acrescento neste momento que no trajecto de entrada na dita superficie comercial, a criatura passaria por nada menos do que 2 Caixotes do Lixo. Passei-me! Tirei com vigor o meu carro (o tal que herdou o presente .. e não, não estou chateada por ter eu ficado com ele ... havia outras opções ... foi uma atitude baseada numa questão de princípio) e percorrendo sempre a refilar o mesmo percurso, coloquei, mesmo no nariz da dita, o saco no caixote do lixo, atirando para o ar: Tão simples, não é?!
Todos estes exemplos que enumero, só reforçam, a minha, desde há muito, convicção de que em Portugal o grau de Cidadania é muito baixo. Claro que não é só em Portugal, não sou daquelas que acho que é neste pequeno pedaço de terra a beira mar plantado, que foram depositados todos os momentos negros da condição humana. Existem outros países com problema semelhante, o que me interessa é que existem muitos outros em que esse limiar atingiu, desde há muito, valores mais dignos. Terão concerteza outros problemas, dizem vocês. É claro que sim! Mas resolvem-nos com uma maior consciência cívica ... e isso, só por si, é duma enorme riqueza.
Mas como não só de tristezas se faz o dia. Hoje temos jogo de Portugal! As bandeiras começam a surgiu defraldadas ao vento
(lá está .... só depois da vitória é que se sentiu a confiança nas ruas ... que raio de povo tão fantástico, e ao mesmo tempo com tanta dificuldade em acreditar em si mesmo)
e as expectativas estão ao rubro.
Hoje a mensagem do meu blog vai para os mais pequenos. Li no blog da educadora-maravilha da M. que esta é a música que faz vibrar os pequenitos e vai daí roubei-lhe o link
(porque tenho a certeza que ela não se importa!)



VIVA PORTUGAL!

1 comentário:

Ny disse...

Não podia estar mais de acordo, assistimos por vezes a coisas surreais, em que chegamos ao extremo do direito ao protesto de uns por em causa a liberdade de quem simplesmente não quer aderir ao mesmo e trabalhar! Vemos as noticias e hoje em cada quina e canto há sempre há sempre um piquete da contestação, comprometendo e dando por vezes muito má imagem do próprio país!
Muitos deviam de facto ir conhecer o verdadeiro 3º mundo e de certeza que a partir daí, teriam efectivo orgulho do nosso cantinho, muito para além das alegrias da nossa selecção!