Eliminar todo o historial de
conversas e e-mails trocados foi das coisas que mais lhe custou fazer nos
últimos meses. Nunca conseguiu o necessário desprendimento emocional a que as
limpezas de arquivo emocional obrigam, pelo que não conseguiu fugir a sentir a
alma a rasgar-se por dentro, só perante o vislumbre de nunca mais ler as palavras
doces que tanto a prenderam e apaixonaram. Sentiu as borboletas, as mesmas que
há algum tempo atrás a faziam flutuar pelo ar a morrerem, estranguladas pelo vazio
a que o afastamento dele a havia remetido. Outra vez.
Tinha tentado manter a esperança.
Uma fé inabalável de que quem deve estar junto ficará junto. Eram assim as
histórias de amor e ela desejava ardentemente viver a sua, aquela que o destino
sempre teimou em lhe roubar. Mas os dias foram passando, as mensagens mais ou
menos directas foram ficando sem resposta, o apelo final ignorado, e um dia no
misto do tradicional cansaço e consciencialização do mundo que a rodeava,
viu-se confrontada com a realidade que teimava em não aceitar. Ele tinha
partido. Tinha partido e tinha-a deixado para trás.
Procurou, num último ato de
loucura chegar até ele e constatou que o espaço que, outrora, também não havia
sido bem seu, já tinha sido ocupado. Não pela Sofia, mas por outra cujo nome
pouco lhe interessou registar. Importante era finalmente abrir os olhos da alma
e perceber que não tinha passado tudo de um engodo.
Abriu a caixa de e-mail e clicou
no marcador mais importante.
Ali compilados, para gaudio masoquista
dos seus sentidos, estavam meses de conversas trocadas, de mentiras, de
ilusões, de dor. Resistiu à ideia de lá voltar. Com os olhos marejados e a alma
a gritar-lhe interiormente que não era possível ter voltado a ser tão burra,
seleccionou a totalidade das 254 conversas arquivadas. Com a mão hesitante mas
o raciocínio implacável carregou no delete. No tempo, uma fracção de segundos apenas, em
que esperou para que o programa lhe certificasse que não existiam mais
vestígios do homem que amou, soltou toda a tristeza que se condensava no
interior. Deixou as lágrimas correrem pela face marcada pela tristeza, e deixou
a alma voltar a perder o brilho.
Neste estado de morte emocional,
vestiu o casaco, pegou na mala, desligou o pc e fechou as portas. A do gabinete
e a do coração. Outra vez.
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